segunda-feira, abril 11, 2005

família

como te falar dos nossos silêncios dissonantes? como te falar. como. explicar-to. explicar-me. como.
primeiro apetece-me bufar-te. bufar-te. bufar-te que me empapa esse teu cristianismo. esse teu cristianismo feliz. sedimentado. sedimentado em milénios. sabes? encharcou. encharcou-se. impregnou-se devagarinho. devagarinho. sabes? apetece-me esfolá-lo. esfacelar a pele até que tudo minguasse numa sarjeta qualquer. ser-te sincero. ser-te sincero. e para isso preciso de o eliminar. eliminar. mas há esta infusão de racionalidade a que chamo. por agora. o impossível. talvez não só por agora mas por. para. durante. sempre. a impossível tarefa de esfarelar este nosso cristianismo da minha pele.
como escrevi: foram todos esses milénios de encrostação e ainda o meu nascimento. a infância. e o dia a dia ladeado de imposições. imposições semelhantes. semelhantes à educação que me ofereceste. a educação de arquitectar uma boa cofragem de personalidade. um molde apreendido ao longo de gerações. um molde certinho cujo desejo era regurgitar uma viga sem vícios. mas já percebeste. não é? sou um animal ácido de propriedade. ácido. e tenciono permanecer assim. assim. com várias vontades e uma fixação: esfolar. esfacelar. esfarelar. este cristianismo da minha pele.

e.e.

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