terça-feira, setembro 28, 2004

alfarrobas

a ria foi dragada. já não se pode atravessar o canal com água pela cintura. joelhos. ou mesmo pelo pescoço. foi dragada. escravizada. e as alfarrobas dançam sobre as crinas dos cavalos que as tentam mastigar. alfarrobas que atravessam o canal já não em bateiras mas em barcos. com cais e cais. a praia tem alforrecas revestidas de sacos de plástico cigarros pedaços de papel e muitas algas fervendo no caldo macio que é a banheira onde nós. alfarrobas. nos tentamos. há vento de oeste. e a ria foi dragada e o seu fundo ventre profundo vincado pelas pás graves dos abutres. os peixes fugiram. as ovas voaram. o leito deslocado e o canal e o canal. o canal dançando também. tocado por este vento de oeste que tudo leva. este vento que transforma água em fino pó de cianeto e se derrama em cima de nós. alfarrobas dançando sobre as crinas dos cavalos. atolados. com suas finas patas enfiadas num lamaçal de alforrecas. dragado.

e.e.

Sem comentários: