segunda-feira, maio 24, 2004

Polegar

Agora que olhava para a sua mão como uma revelação já esquecida, arrepiava-se.
O seu polegar era mínimo. Feio. Movimentava-se com uma disciplina autónoma, como se a consciência morasse ali. Lembrou-se daquela cantaroleta da falange, falanginha, falangeta. Coisa de médico, mnemónica, pois.
A unha encrostava-se numa cabeça larga, semelhante à sua glande, com o prepúcio delgado. Logo a seguir à articulação, um curto troço reduzia a falanginha. A falange enterrava-se no gomo muscular da mão. Olhava para o seu polegar e arrepiava-se.
Crescera não um dedo comum mas sim um pénis atrofiado e balbuciante. Para seu desespero, trazia cravada na mão a sua identidade masculina. Não existia intimidade. Ele era um corpo nu, apesar de vestido.
Olhou mais uma vez e chorou a exposição erecta da sua impaciência. Ao mesmo tempo, o polegar regurgitou e sorriu-lhe, sarcasticamente.

e.e.

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