quarta-feira, setembro 28, 2005

TEORIA DAS CORES

Era uma vez um pintor que tinha um aquário com um peixe vermelho. Vivia o peixe tranquilamente acompanhado pela sua cor vermelha até que principiou a tornar-se negro a partir de dentro, um nó preto atrás da cor encarnada. O nó desenvolvia-se alastrando e tomando conta de todo o peixe. Por fora do aquário o pintor assistia surpreendido ao aparecimento do novo peixe.
O problema do artista era que, obrigado a interromper o quadro onde estava a chegar o vermelho do peixe, não sabia que fazer da cor preta que ele agora lhe ensinava. Os elementos do problema constituíam-se na observação dos factos e punham-se por esta ordem: peixe, vermelho, pintor - sendo o vermelho o nexo entre o peixe e o quadro através do pintor. O preto formava a ínsidia do real e abria um abismo na primitiva fidelidade do pintor.
Ao meditar sobre as razões da mudança exactamente quando assentava na sua fidelidade, o pintor supôs que o peixe, efectuando um número de mágica, mostrava que existia apenas uma lei abrangendo tanto o mundo das coisas como o da imaginação. Era a lei da metamorfose.
Compreendida esta espécie de fidelidade, o artista pintou um peixe amarelo.

in Os Passos em Volta, Herberto Helder, Assírio e Alvim, 8ª edição, 2001, p. 22.

segunda-feira, setembro 26, 2005

Companhia do Eu

Venho apresentar-vos a Companhia do Eu, um novo espaço pelo qual sou
responsável. A Companhia do Eu é um centro de cursos de criatividade e
cultura, oferecendo:
- cursos de escrita criativa e escrita de autobiografia
- cursos de pintura
- cursos de criatividade e cultura para crianças
- cursos de cultura (cursos básicos, breves mas concisos) sobre os mais
diversos temas: História de Lisboa, Islão - História e Cultura, Poesia Portuguesa do Século XX, Vinhos...
- cursos breves sobre um poeta, acompanhados por um especialista: José
Régio, Vitorino Nemésio...

Está tudo no site www.companhiadoeu.com


Grato, com um abraço,

Pedro Sena-Lino

domingo, setembro 25, 2005

TAHAR BEN JELLOUN INSTITUTO FRANCO-PORTUGUÊS

29 de SETEMBRO 2005 às 18h30


TAHAR BEN JELLOUN, autor marroquino de expressão francesa nascido em Fez em 1944, Prémio Goncourt 1987, é autor, entre outros, de O Albergue dos Pobres, Uma Ofuscante Ausência de Luz, Arzila / Estação de Espuma, O Menino de Areia ou O Racismo explicado aos Jovens (galardoado com o 'Prémio da Tolerância Universal' pelo grupo dos Amigos das Nações Unidas, uma organização não governamental que se propõe dar a conhecer os princípios e valores da ONU).
O escritor e psicólogo vem a Portugal para apresentar os seus livros, Amores Feiticeiros e Escrivão Público com a chancela da editora Cavalo de Ferro e estará no Instituto Franco-Português no dia 29 de Setembro às 18h30 para um encontro com o público.

www.ifp-lisboa.com

sexta-feira, setembro 23, 2005

Ainda sobre a Biblioteca...

"A biblioteca não é um sarcófago, é um repositório de ciência viva"

_ 1918 Raúl Proença


Stormy Angel

quinta-feira, setembro 22, 2005

A Biblioteca

"(...) um dos mal-entendidos que dominam a noção de biblioteca é o facto de se pensar que se vai à biblioteca pedir um livro cujo título se conhece. Na verdade acontece muitas vezes ir-se à biblioteca porque se quer um livro cujo título se conhece, mas a principal função da biblioteca, pelo menos a função da biblioteca da minha casa ou da de qualquer amigo que possamos ir visitar, é de descobrir livros de cuja existência não se suspeitava e que, todavia, se revelam extremamente importantes para nós."

in A Biblioteca, Umberto Eco, trad. Maria L. Rodrigues de Freitas, Difel, 5ª ed., 2002.

segunda-feira, setembro 19, 2005

tribalismo

O arquitecto Fernando Távora morreu. Como sempre, foi-se o corpo mas ficou o legado. No passado dia 10 de setembro, sábado, o jornal Público incluiu no suplemento mil folhas um artigo do arq. Alves Costa recordando o falecido colega e amigo. No meio das palavras já gastas dos capitães-arquitectos deste país, aparecia uma fotografia reunindo F. Távora, A. Costa e A. Siza. Recordei alguns pensamentos que tivera no passado, assim que abandonei o curso de Arquitectura da Faculdade do Porto. Observando a imagem, podemos reparar no tribalismo atemporal que percorre o ser humano, desde os primórdios até à actualidade. Ali se encontram os três, de calça clara, sapato sóbrio mas despreocupado, camisa não muito folclórica (não convém a um bom arquitecto armar-se de floreados e ornamentos, sobretudo se for ou seguir a tendência da Escola do Porto), posta para dentro da cinta, que a barriga quer-se crescente e as fraldas de outrora olvidáveis, e os pobres dos óculos, sempre contidos, à beira da queda livre, numa artimanha bastante prática, volteando o pescoço, digna de um bom projectista! Ora... será necessário todo este fenómeno de pequenas identidades e polimentos de imagem para se pertencer a algo? Será necessário clonarmos um ideal repetido (mesmo que negando do auge da nossa maturidade intelectual o evidente), acusarmos esse tribalismo pequenino tão milenar (longínquo mas ao mesmo tempo mais próximo do que nunca) e mesmo assim ladrar por essas avenidas fora que se é muito independente e arquitecto e intelectual e que não se faz parte, mas a sério! acreditem! que não se faz parte de nenhum grupo, qualquer que ele seja, porque, olhem para mim, eu sou independente e o meio não me afecta! (?)
Tudo isto para transmitir que só de olhar para aquela simples fotografia de confraternização fiquei enjoado durante um bom pedaço.
Não mudamos! Espantem-se os néscios, pois o tribalismo continua e bem presente.

Álvaro Seiça Neves