Reflexão 4
Acordei por volta das onze horas com o Frio deitado ao meu lado, abraçando-me. Deixei-me ficar um pouco na cama, pois não tive coragem para enfrentar o mundo gelado. Até que ouvi barulho na casa de banho. Isto surpreendeu-me: a minha mãe já tinha ido para casa da minha avó, o meu irmão estava concerteza a dormir... quem seria?
Levantei-me e fui investigar. Era o meu irmão. A sua expressão de sono era assustadora... estava bêbado, provavelmente. Eu também ainda não estava bem ciente da realidade que me rodeava. Pediu-me para o acordar às cinco da tarde, pois ia-se deitar entretanto. Acedi ao seu pedido.
Tomei banho, vesti-me e comi qualquer coisa, sempre acompanhado pelo Silêncio. A casa parecia um túmulo, com uma total ausência de actividade... tudo parecia adormecido.
Ao sair à rua, deparei-me com muito movimento, alegria, cor e calor humano. Mas os meus dois amigos não me largaram por um único segundo. E à medida que caminhávamos, um terceiro companheiro juntou-se a nós. Era a Tristeza. Sorridente como sempre, desejou-me "Boas Festas". Retribuí-lhe o sorriso gélido.
Continuei o meu caminho. Sempre que olhava por cima do ombro, via os meus três companheiros, silenciosos e taciturnos. Até que encontrei outros amigos, os chamados "amigos de carne e osso", os verdadeiros. Sentado no café a conversar com eles, contudo, não pude deixar de pôr em causa se o Marto, o Mota e o Pastel seriam mais reais do que o Frio, o Silêncio e a Tristeza...
Deixei-me embrenhar por estes pensamentos, até que ela apareceu: a Dor. Estava bonita, como sempre. Trocámos palavras, prendas e beijos. Ela, ao menos, sei que nunca me deixará. É, sem dúvida, a minha melhor companheira; é "a" companheira.
Despedi-me de todos, prometendo que não morreria hoje. De volta a casa, encontrei o meu irmão a berrar contra tudo e contra todos, mas sobretudo contra o Natal. Creio que a Revolta e o Arrependimento andam a visitá-lo cada vez mais frequentemente.
É assim, o Natal. É quando todos nos fazem uma visita... sobretudo, visitam-nos aqueles que nós mais queremos esquecer.
Cristóvão Figueiredo
quarta-feira, dezembro 22, 2004
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