quinta-feira, dezembro 02, 2004

panteísta

ria-se e ria-se. estridente. batia palmas e ria-se para as aves abertas. junto ao tejo o eco parecia aumentar. ria-se e ria-se e falava para as aves abertas. talvez se entendessem.
seguiu ao encontro dum pinheiro manso. cambaleante. as mãos como que se elevaram até à caruma esverdeada. cheiraram longo tempo. cheiraram aquele incenso e da sua mímica percebia-se que afagavam os braços da árvore.

noutro pinheiro ao lado estancou. depois abraçou o tronco. abraçou com força. e a cada estímulo da natureza esboçava um espanto de criança. caminhou entrelaçado pelas árvores. as aves. as aves e as árvores. olhou então para um senhor ali perto que se fascinava num jornal e pediu um cigarro. recebeu um abanão de cabeça. pediu muita desculpa por incomodar e libertou estas palavras:
polícia... polícia chegou... pé mim... apalpou apalpou apalpou... tenho nada... (e cabisbaixava para os pés negros de surro)... estive preso dois meses
... (e entoava um sotaque brasileiro)... agora saí... mas tenho arranjar emprego... sabe?... ali esquerda... circo tché... sabe?... ali esquerda... circo tché... vou lá tentar emprego... senão estou fodido!
e fugiu por entre a caruma. trepou pela casca do pinheiro e desapareceu.

e.e.

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