labirintório
a fausto apetece desistir. isso já não é de agora apetecer desistir. morrer, por exemplo. o mais difícil é resistir à raiva. e encontrar forças nas partes que estão partidas.
como encontrar a força numa fractura? num osso fissurado? como conseguir reunir os ossos espalhados pelo chão e disso fazer um esqueleto mais forte e mais eficaz?
é difícil erguer as mãos contra o dia, em luta corpo a corpo com a vida, quando as noites são tão vividas dentro dos sonhos. é a vida que está errada, não os sonhos. fausto sonho cada vez mais, com a cabeça toda, com toda a energia da imaginação e todo o poder da lógica. sonha tanto que quando acorda olha para o dia e pensa "estou estafado disto tudo" e "não me apetece fazer nada".
e depois vai para o labirintório. e fica entretido a misturar elementos, a mexer em godés e em aparelhos de medição. fica a misturar elementos sem razão nem objectivo apenas para ver as cores diluirem-se umas nas outras. no seu labirintório interessa-se particularmente pela passagem do ferro à ferrugem. usa para isso de um diluente chamado tempo. um diluente aparentemente fraco mas que é capaz de destruir mais a fundo que o ácido sulfúrico. é um diluente que é capaz de actuar poderosamente sobre a matéria e alterar os estados do mundo.
a isso fausto chama "poesia", talvez erradamente.
Rafael Dionísio
www.rafael-dionisio.blogspot.com
sexta-feira, abril 22, 2005
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