terça-feira, novembro 09, 2004
A Contradição
No lugar de um “sim” deveria estar um “não”.
Assim termina a jornada que nunca chegou a ser iniciada.
Estava eu sorridente, feliz por estar onde estava com quem não estava, e a repetir de forma incessante e algo contrariada as palavras que ouvira dizer essa amanhã:
“Tudo o que te disserem é mentira.”
Como poderia ele, com tanta segurança, afirmar que de outra forma não o era? Onde vai ele buscar essa crença imbatível que lhe permite atravessar de olhos fechados a instável ponte que une o dizer ao saber?
Suponhamos que, de facto, tudo o que me disserem é mentira. Todas as afirmações que ouço diariamente, desde “Estou atrasado…” até “Amanhã vou a Xangai” estão totalmente corrompidas pela falsidade; como tal, significam exactamente o oposto da ideia que aparentam transmitir. Nesse caso, até aquilo que ele mesmo afirma estaria encerrado em falsidade e negação. Logo, nem tudo aquilo que me disserem é mentira. Tem de haver pelo menos uma afirmação verdadeira. Mas… qual?
A resposta aponta-nos irremediavelmente para a sua própria declaração, que defende que tudo aquilo que me disserem é falso. Ao assumir-se como mentirosa, a afirmação consegue suportar-se como verdadeira, por não entrar em contradição com aquilo que sustém. Incrível! Ao ceder toda a sua credibilidade, ela torna-se verdadeira e correcta!
Tudo o que me disserem é de facto mentira, porque alguém me mente dizendo-me a verdade, alguém que é sincero quando me prova que não o é…
Perante isto, como poderia eu duvidar dele?
Cristóvão Figueiredo
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