segunda-feira, setembro 19, 2005

tribalismo

O arquitecto Fernando Távora morreu. Como sempre, foi-se o corpo mas ficou o legado. No passado dia 10 de setembro, sábado, o jornal Público incluiu no suplemento mil folhas um artigo do arq. Alves Costa recordando o falecido colega e amigo. No meio das palavras já gastas dos capitães-arquitectos deste país, aparecia uma fotografia reunindo F. Távora, A. Costa e A. Siza. Recordei alguns pensamentos que tivera no passado, assim que abandonei o curso de Arquitectura da Faculdade do Porto. Observando a imagem, podemos reparar no tribalismo atemporal que percorre o ser humano, desde os primórdios até à actualidade. Ali se encontram os três, de calça clara, sapato sóbrio mas despreocupado, camisa não muito folclórica (não convém a um bom arquitecto armar-se de floreados e ornamentos, sobretudo se for ou seguir a tendência da Escola do Porto), posta para dentro da cinta, que a barriga quer-se crescente e as fraldas de outrora olvidáveis, e os pobres dos óculos, sempre contidos, à beira da queda livre, numa artimanha bastante prática, volteando o pescoço, digna de um bom projectista! Ora... será necessário todo este fenómeno de pequenas identidades e polimentos de imagem para se pertencer a algo? Será necessário clonarmos um ideal repetido (mesmo que negando do auge da nossa maturidade intelectual o evidente), acusarmos esse tribalismo pequenino tão milenar (longínquo mas ao mesmo tempo mais próximo do que nunca) e mesmo assim ladrar por essas avenidas fora que se é muito independente e arquitecto e intelectual e que não se faz parte, mas a sério! acreditem! que não se faz parte de nenhum grupo, qualquer que ele seja, porque, olhem para mim, eu sou independente e o meio não me afecta! (?)
Tudo isto para transmitir que só de olhar para aquela simples fotografia de confraternização fiquei enjoado durante um bom pedaço.
Não mudamos! Espantem-se os néscios, pois o tribalismo continua e bem presente.

Álvaro Seiça Neves

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